"Debunking is fine, but it needs to be accompanied with a cultural sensitivity (as Kahan puts it) for the doubting parents, treating them not as idiots but as people whose concerns and fears are taken seriously" (Helen de Cruz, "How to promote the safety and effectiveness of vaccines")
A Helen está coberta de razão. Pensando na eficácia, confrontar o negacionista com a acusação de que ele é idiota ou irresponsável na busca por evidência, na prática, só fará com que ele se apegue ainda mais a sua posição. Especulo que por trás disso haja algum daqueles mecanismos sutis da vaidade. Eu confesso que frequentemente fraquejo e não consigo ter a paciência recomendada pela Helen, talvez por ser vítima também de algum outro desses mecanismos da vaidade. Mas não só, há indignação também na minha intolerância. De qualquer modo, lendo as ponderações da Helen, fiquei com a pergunta: qual a melhor estratégia não para superar essa ou aquela negação absurda (vacinas em geral não são seguras, HIV não tem nada a ver com AIDS, aquecimento global não tem causa antropogênica etc.), mas para, em um âmbito mais geral, vencer a cultura que nos faz sentir pouco ou quase nada responsáveis pela qualidade de nossas crenças? As vitórias pontuais não serão genuínas se não forem acompanhadas dessa mudança mais geral. Sobre este ponto, Helen nos dá uma pista no final do seu texto:
"From a consequentialist perspective, our primary focus should not be to prove the anti-vaccine promoters wrong but to make sure to create a climate where parents again accept vaccination as the obvious, safe choice for their children. As Lady Montagu wrote " 'Tis no way my interest (according to the common acceptation of that word) to convince the world of their errors; that is, I shall get nothing by it".
A Helen está coberta de razão. Pensando na eficácia, confrontar o negacionista com a acusação de que ele é idiota ou irresponsável na busca por evidência, na prática, só fará com que ele se apegue ainda mais a sua posição. Especulo que por trás disso haja algum daqueles mecanismos sutis da vaidade. Eu confesso que frequentemente fraquejo e não consigo ter a paciência recomendada pela Helen, talvez por ser vítima também de algum outro desses mecanismos da vaidade. Mas não só, há indignação também na minha intolerância. De qualquer modo, lendo as ponderações da Helen, fiquei com a pergunta: qual a melhor estratégia não para superar essa ou aquela negação absurda (vacinas em geral não são seguras, HIV não tem nada a ver com AIDS, aquecimento global não tem causa antropogênica etc.), mas para, em um âmbito mais geral, vencer a cultura que nos faz sentir pouco ou quase nada responsáveis pela qualidade de nossas crenças? As vitórias pontuais não serão genuínas se não forem acompanhadas dessa mudança mais geral. Sobre este ponto, Helen nos dá uma pista no final do seu texto:
Com efeito, a minha pergunta pressupôs vitórias pontuais apartadas do fomento à cultura que valoriza o zelo pela qualidade de nossas crenças. Como já disse, essas vitórias não seriam genuínas, se é que seriam viáveis. Não queremos causar no negacionista as crenças para as quais há excelente evidência, queremos antes que ele adquira esta evidência e veja que ela suporta e serve de razão para essas crenças. Não podemos alcançar este objetivo sem, ao mesmo tempo, exercer o zelo pela qualidade de nossas crenças. Chamar a atenção do outro para o fato de que ele está em falta com uma virtude pouco contribuirá para dispô-lo a adquiri-la. Exercê-la humildemente diante dele talvez seja o melhor que possamos fazer a este respeito.
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